14/11/2011

PRESIDENTE SAMORA MACHEL: Seu papel no desenvolvimento de Tete e na liderança de Tete para a Libertação Nacional e do Zimbabwe

As nossas primeiras palavras são de agradecimento pela forma calorosa, hospitaleira e cheia de irmandade como nos receberam neste torrão de Moçambique chamado Tete.

Os vários grupos culturais que se fizeram ao aeroporto e a este local onde estamos reunidos demonstraram como se dança, e se dança muito bem, em Tete para receber hóspedes.

Ao longo da nossa rota para esta bela Cidade fomos saudados por homens e mulheres, de diferentes idades, estratos sociais e origem, todos eles de semblantes alegres, sorridentes.

São cidadãos que em todo o nosso percurso iam-nos saudando, acenando e esbracejando, fazendo-nos sentir sempre bem acolhidos nesta nossa outra casa.

Saudamos o Governo, os partidos políticos e as organizações da sociedade civil pela forma como mobilizaram e enquadraram a população para este dia de homenagem ao saudoso Presidente Samora Moisés Machel, simbolizada pelo descerramento do monumento a ele dedicado, no Ano Samora Machel.

Esta homenagem está carregada de emoção porque reaviva as nossas memórias da sua última visita a esta Província, de cerca de uma semana, com início no dia 15 de Setembro de 1986. Com efeito, o Presidente Samora Machel visitou alguns distritos desta Província e, uma vez mais, constatou que a ausência da Paz era um grande impedimento para o desenvolvimento social e económico de Tete. Aliás, no comício que realizou aqui em Tete, no dia 21 de Setembro de 1986, ele colocou acento tónico no resgate da Paz para o desenvolvimento de Tete, de Moçambique e da região.

Foi no quadro da busca da Paz que ele se deslocara ao Malawi no dia 11 de Setembro de 1986.

Naquele país, nosso vizinho, ele reuniu-se com o Dr. Kamuzu Banda, acompanhado pelo Presidente Kenneth Kaunda, da Zâmbia, e pelo então Primeiro-Ministro do Zimbabwe, Robert Mugabe.

O encontro tinha em vista sublinhar a necessidade de boa vizinhança entre todos os países da África Austral. Foi no mesmo contexto que no dia 19 de Outubro de 1986, ele participou num encontro com o Presidente Mobutu Sese Sekou, do Zaire, na companhia de outros dois Chefes de Estado da Linha da Frente, nomeadamente Kenneth Kaunda, da Zâmbia, e José Eduardo dos Santos, de Angola. O encontro tinha por objectivo persuadir o Presidente do Zaire para deixar de apoiar a UNITA que estava a assassinar cidadãos angolanos e a destruir aquele Estado da Linha da Frente. De regresso a Maputo, o seu avião despenhou-se nas colinas de Mbuzini.

O Presidente Samora Machel era assim barbaramente assassinado pelo regime do Apartheid.

Nesta visita a Tete ele deixara claro que a Paz era a condição para o nosso desenvolvimento.
Vinte e cinco anos depois, podemos dizer que Tete, como o resto da nossa Pátria Amada, é exemplo da realização desse seu sonho. Vamos dar alguns exemplos:
v    A Barragem de Cahora Bassa, que ele visitou no dia 18 de Setembro de 1986, não só passou para o nosso controle, como também electrifica mais Distritos, Postos Administrativos e Localidades desta Província e deste nosso belo Moçambique, promovendo o nosso desenvolvimento social e económico. Países vizinhos também se beneficiam da nossa energia e há planos para um maior aproveitamento do potencial hidro-eléctrico do nosso majestoso Rio Zambeze.
v    O carvão de Tete, que o Presidente Samora Machel viu amontoado na CARBOMOC, no dia 19 de Setembro de 1986, já é escoado através da reabilitada Linha de Sena para o mundo. Estão hoje em curso planos de intensificação da actividade mineira e de exploração de outras vias de escoamento deste recurso mineral.
v    A produção agrária, que o Presidente Samora Machel testemunhou no Complexo Agro-Industrial de Angónia, no dia 16 de Setembro de 1986, intensificou-se e diversificou-se nesta Província.
Uma unidade de agro-processamento está em construção, em Ulóngué, local onde o Presidente Samora Machel foi entusiasticamente recebido nesse dia 16 de Setembro.

Hoje, Tete pode orgulhar-se por estar a realizar o sonho do Presidente Samora Machel não só nestas como também em outras frentes a que ele fez referência no comício daquele dia 21 de Setembro de 1986.
Referimo-nos ao desenvolvimento, na forma de mais infra-estruturas sociais e económicas, como são os casos de escolas, unidades sanitárias, fontes de abastecimento de água, estradas e unidades industriais.
Referimo-nos também ao desenvolvimento cultural que se regista através do incremento da actividade desportiva, artística e cultural. Em particular, com orgulho, Tete festejou a proclamação do seu Nyau, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, UNESCO, como Obra Prima do Património Oral e Imaterial da Humanidade.

Por isso, parabéns, caros compatriotas de Tete,  por tudo o que têm feito para honrar o sonho do nosso saudoso Presidente Samora Machel. Este monumento, ao lado da Ponte Samora Machel, testemunha o nascimento de mais uma infra-estrutura para facilitar a travessia do Rio Zambeze.

Tete está a crescer. É Moçambique a desenvolver-se, pois o que vemos aqui em Tete está a acontecer em outras partes desta nossa Pérola do Índico.


Tete foi um dos berços da epopeia nacionalista do Povo Moçambicano na luta pela conquista da Independência Nacional.
Aberta em 1964, a “Frente de Tete” viria a ser interrompida pouco depois, por motivos logísticos. Reaberta em 1968, esta frente viria a desempenhar um papel de grande relevo para o desenvolvimento e sucesso da luta nesta Província e para a abertura da “Frente de Manica e Sofala”, em 1972. Esta nova realidade levou o Presidente Samora Machel a declarar, E NÓS CITAMOS “já estamos a operar no estômago do inimigo!”. FIM DA CITAÇÃO.

Com o Presidente Samora Machel, Tete seria um dos marcos da nossa solidariedade para com o Povo do Zimbabwe.

Nas nossas Zonas Libertadas recebemos e treinámos os guerrilheiros da ZANU que, em 1972, entraram no seu país para realizar operações de guerrilha.

Sob a orientação do Presidente Samora Machel, Tete acolheu, ainda no Governo de Transição, zimbabweanos que fugiam da repressão do regime ilegal de Ian Smith. Tembwe, em Chifunde, destaca-se como um desses campos que acomodou esses nossos irmãos do Zimbabwe. Alguns desses zimbabweanos decidiram pegar em armas e lutar para a restauração da dignidade do seu Povo.

Moçambicanos também participaram operações porque nós queríamos a Paz para realizar o nosso sonho de desenvolvimento.
O monumento que descerrámos há pouco é, assim, uma homenagem digna e merecida a este nosso dirigente, por aquilo que fez por Tete, por Moçambique, pela África Austral e pelo mundo. Deste modo, a expressão Samora Vive não é apenas retórica, desprovida de significado.
Ela é, muito pelo contrário, testemunho do nosso reconhecimento da validade, importância e actualidade dos seus ideiais e visão para fazermos face, hoje, aos desafios que se nos colocam na luta contra a pobreza.

O Presidente Samora Machel era dotado de excelentes qualidades de liderança e visão que lhe permitiam fazer leituras e, de forma proactiva, introduzir as necessárias adaptações tácticas para realizar o nosso projecto de um Moçambique próspero, sempre unido e em paz e com crescente prestígio no concerto das nações. Foi neste contexto que anunciou, em 1984, que o Estado não poderia continuar a vender agulhas, abrindo assim espaço para a iniciativa privada. Subsequentemente, liderou-nos na reprivatização das lojas e de pequenas empresas.

Orientou-nos, igualmente, para a adesão de Moçambique ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial e aos países da Convenção de Lomé.
O Programa de Reabilitação Económica, conhecido por PRE, lançado em 1987, foi concebido sob a liderança do Presidente Samora Machel.

No Presidente Samora Machel ainda nos inspiramos na árdua missão de construção do nosso bem-estar. A semente que ele lançou à terra já desabrochou plena e robusta em todo o nosso belo Moçambique.
Exortamos a todos os nossos compatriotas a persistirem na consolidação da Unidade Nacional, em homenagem a este Herói Nacional e porque este é o pressuposto fundamental para continuarmos a registar índices de desenvolvimento social e económico. A Unidade Nacional garante que todos nós, moçambicanos, realizemos os nossos sonhos pessoais e participemos, de forma mais estruturada, dinâmica e efectiva na luta contra a pobreza. Gostaríamos de recordar a todo o nosso maravilhoso Povo que foi graças à Unidade Nacional que conquistamos a Independência Nacional. Os combatentes da Luta de Libertação Nacional consentiram indescritíveis sacrifícios, incluindo as suas preciosas vidas, não em nome de uma tribo mas, isso sim, em nome de todo o nosso Povo, entregaram-se para libertar todo o nosso belo Moçambique.

Hoje, devemos manter a Unidade Nacional e cada um de nós, esteja onde estiver deve sentir-se como estando em sua própria terra. O moçambicano de Cabo Delgado a viver na Zambézia, deve sentir-se como estando na sua própria terra, em Moçambique e nunca se deve sentir como estrangeiro. O Presidente Samora Machel foi um grande defensor da Unidade Nacional.

Por isso, a árvore que ele plantou, hoje frondosa e na forma da paz, da Unidade Nacional, do desenvolvimento social e económico e integração regional, muito orgulharia o proclamador da nossa Independência Nacional. Por isso repetimos:
Samora Vive em cada um de nós, em cada espaço do nosso solo pátrio, na região e no mundo.


Muito obrigado pela vossa atenção.


(Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, por ocasião da inuguração da estátua do Presidente Samora Machel em Tete. Tete, 10 de Novembro de 2011)